Um talento: Dizer “Não”. Um medo: Dizer “Sim”
Um relato sobre o “sim” que me atravessa e o “não” que me protege.
Muito se fala sobre a dificuldade que a grande maioria das pessoas tem em dizer "não".
Porém, no meu caso, acontece exatamente o oposto.
Eu digo "não" como quem fala "bom dia", "boa tarde" ou "boa noite", numa facilidade enorme, sem dificuldade ou constrangimento.
Se você, depois de ler esse meu depoimento, pensou:
“Uau, isso é muito bom!”
Calma aí!
É preciso um olhar atento pra compreender que aí tem um problema. Afinal, eu tô falando de mim, né, mores? Por aqui, o buraco é mais embaixo.
A sociedade em que vivemos, muitas vezes, associa o “não” à força e, de fato, negar pode ser um salto importante na conquista da própria autonomia. E eu usufruo disso. Porém, o problema se revela quando o “não” se torna uma espécie de muro que nos separa das oportunidades e possibilidades da vida.
Eu passei a me dar conta disso há aproximadamente um ano, quando meu marido me deu de presente o livro O Ano Em Que Disse Sim!, da Shonda Rhimes. Eu confesso que, no começo, não entendi a indireta diretíssima — afinal, ele sabe muito bem os gêneros literários que me atraem — mas, mesmo achando tudo meio estranho, eu resolvi ler. Confesso que não terminei de ler o livro — como já disse, não é o meu gênero literário favorito —, mas li até a metade, e isso já foi o suficiente pra eu me questionar e questionar meu marido:
"Amor, você acha que eu digo muito 'não'?"
E, para os dois questionamentos, a resposta foi um categórico e retumbante SIM.
Senti o alívio no olhar dele, como quem diz: “Ufa, ela entendeu a indireta.” E eu realmente tinha entendido — e comecei a refletir a respeito. Comecei a analisar os meus “nãos” e percebi que 100% deles não se tratavam de autocuidado, como eu imaginava. Olhando um pouco mais de perto, eu pude notar que uma parcela desses “nãos” ocupava um espaço considerável de possíveis “sins”, reduzindo cada vez mais a única janela de possibilidades que eu poderia abrir pra mim — tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.
Dizer “sim” demanda muita coragem.
O “não” protege. O “sim” confia, movimenta e convida ao novo, à mudança, ao incerto. O “não” me dá o controle. O “sim” me tira o controle das mãos e me obriga a confiar — seja na vida ou em mim mesma — e é por isso que eu acho o “sim” MUITO mais difícil que o “não”. O “sim” me dá calafrios.
O “sim” aceita convites, exige escuta e entrega sem garantia de retorno.
E é aí que tá: custava entregar pelo menos uma certezinha, gente?!
Olha, eu realmente não sei se serei a pessoa que dirá mais “sins” do que “nãos”. Na verdade, nem sei se eu quero ser essa pessoa. Afinal, nada substitui o prazer de um “não” bem dado, né?!
A única certeza que eu tenho é que, hoje em dia, eu busco ter consciência e intenção em cada “não” e em cada “sim” que eu digo. No final das contas, não é exatamente sobre dizer “sim” ou “não” — é sobre presença. Estar presente, ouvir e sentir o que a boca e o corpo falam.
É fácil?
Óbvio que não.
Mas a gente tenta, né?
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Eu sou a pessoa com dificuldade de dizer 'não' rs Obrigada por essa reflexão.
Entendeu minha indireta hahahahahaha e fico feliz em ler essas reflexões! Te amo! Ps: vc disse sim pra mim! ❤️